A feira de Central do Maranhão

 


A feira de Central do Maranhão


Por Aricelia Cantanhede
Presidente Comtur 2019-2021.

 INTRODUÇÃO



A Feira de Central do Maranhão é um importante instrumento para comercialização da Região da Baixada Maranhense e a Micro - Região Litoral Ocidental Maranhense. É um local onde se encontra um grande mix de produtos. Desde os produtos industriais aos produtos da Agricultura Familiar.

A Feira de Central  desenvolve também um papel social importante, pois historicamente as pessoas associam o seu período de sua realização  como o dia propício para reencontrar amigos e familiares que residem nas localidades mais distantes, e que chegam a sede para as compras[1]. É também o espaço utilizado para repasse de informações, notícias e convites para festividades, festejos de tambor de crioula ou outra manifestação cultural.


  ASPECTOS HISTÓRICOS DO MUNICÍPIO DE CENTRAL DO MARANHÃO



 O histórico do município parte da existência  do  engenho de produção de cana de açúcar localizados na região,             que pertencia ao senhor Joaquim Antônio Viana, construído em sua propriedade chamada “Fazenda Pindaíba[2]O  Engenho Joaquim Viana ( também chamado Usina Joaquim Antônio) para alguns autores, apontam contribui significativamente  para impulsionar a economia da região, exportando para outros lugares seu produto.

Oliveira (1992) corresponde uma fonte de informações muito valiosa, em sua obra Cronologia da História de Guimaraes, encontramos dados acerca da existência do engenho e dados de movimentações econômicas da região, que na época estava localizado em território  pertencente ao  município de Guimarães- MA.

Segundo Viveiros (1992), dentre os proprietários rurais,  destacava-se  Joaquim Antônio Viana, proprietário do engenho Pindaíba e formado em Engenharia Hidráulica na Holanda  e regresso ao Brasil teria fundado a Usina Joaquim  Antônio Viana em sua fazenda[3]. Este autor possui vasta produção acadêmica, sendo ele um dos mais importantes nos levantamos a se seguirem sobre o tema. Interessante, é que a própria família Viveiros, cujo autor faz parte, também esteve entre os administradores do Engenho Joaquim Viana[4] de Central do Maranhão, assim como também trata em suas obras de outras personalidades de grande influência política e econômica, a exemplo de Joaquim Franco de Sá[5], um dos nomes de ramificações familiares  a serem investigados nesta pesquisa.

Os trabalhos mais específicos, são os de autores  como  Cutrim (1998), Pereira (2000) e Santos (2006)  apresentam  aspectos tanto no que diz respeito aos histórico do engenho, surgimento do município de Central  como também da Feira de Central do Maranhão.

Da estrutura administrativa do antigo engenho, originou a cidade. E, dos prédios importantes que resistiram ao tempo, destaca-se a Gerência Grande (antiga morada dos senhores), a capelinha a que mais tarde tornou-se a Igreja matriz da cidade, a estrutura da Quitanda Grande que resistiu até o ano de 2011, a  Feira Tradicional da Região, e a estrutura da Chaminé do Engenho, chamada popularmente de bueiro.





 
 A  feira tem ligação direta com a existência do engenho de produção de Cana- de- Açúcar que existiu no município até a década de 60. E, sua  origem foi marcada com a abolição da escravatura, momento pelo qual a mão de obra passa a ser contratada.  Seus funcionários,  então libertos não mais recebiam seus mantimentos do dono do engenho, mas sim recebiam agora salários pelos trabalhos prestados neste engenho. E, os produtores, pescadores e criadores da região vendo esta necessidade,  começaram a trazer para os trabalhadores da usina produtos alimentícios e vestuários para que os então funcionários da usina pudessem comprar  na área de proximidades do então engenho (Figura 01-02) . Assim constatamos segundo os apontamentos de Pereira (2000).

No final do século XIX,  com o advento da libertação dos escravos” foi inaugurada em frente ao portão  da Usina Central, uma feira livre, todos os domingos,  oportunidades em que os trabalhadores e/ ou , na cantina administrada pelo encarregado da usina que vendia outros gêneros. Segundo nossos informantes, desde os primórdios de pagamento de salário aos trabalhadores da usina, existe a compra e venda de mercadorias na porta da Central [...]O funcionamento da “ Feira Livre” de Central é de maneira mais ou menos compartimentalizada.

 Cada área tem uma determinada função  e todos se consideram por área, uma feira. Explico- Feira da farinha e feijão; feira do gado; feira da carne; feira do peixe e mariscos; feira dos produtos industrializados; box da porção e restaurantes de comidas caseiras. É esse conjunto e suas relações entre si- de troca e/ ou compra e veda – que fazem a Feira Livre de Central.( PEREIRA,  2000. p . 176-179).

Na fala de Pereira (2000) podemos notar a descrição  realizada por ele, durante sua pesquisa, da variedade de produtos comercializados neste ambiente e de como se organizam no espaço da feira .









Observando as figuras 02 e 03 podemos ter uma ideia dos aspectos de transformação ocorridos no espaço onde é tradicionalmente realizada a Feira  Municipal de Central do Maranhão.

Outro autor que aponta aspectos da Feira de Central é Santos (2006) para ele,  a Feira Tradicional de Central do Maranhão é um dos maiores movimentos econômicos da região, e possui também ligação com a existência do engenho Joaquim Antônio [...] O engenho utilizava, na época do senhor Abelardo Ribeiro (1930-1962), cerca de setecentas pessoas direta e indiretamente nas atividades do engenho que  recebiam seus vencimentos semanalmente”. Ainda segundo o autor, neste período a Usina já não tinha mais a obrigação de alimentar seus funcionários. Desta forma, os pagamentos que realizavam semanalmente, deveriam  suprir suas necessidades. Com dinheiro circulando, atraiu a atenção e interesse de pescadores, lavradores e pecuaristas de várias outras cidades da região que viram  oportunidade para comercializar seus produtos, ganhando grandes proporções.

O Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos ( IMESC) , destaca o âmbito comercial na qual a Feira de Central está inserida. Vejamos a seguir um trecho extraído de um relatório produzido por esta instituição.

Destaca-se a secular feira livre de Central do Maranhão existente há 150 anos. Essa feira teve sua origem junto com o Engenho Central, a partir do pagamento dos empregados e fornecedores aos sábados no período da tarde. Para tanto, produtores e comerciantes da região passaram a concentrar-se, nesse horário, no local para vender ou trocar seus produtos estendendo-se até o domingo (IMESC, 2012, p.165).

Ainda segundo os dados apresentados neste material, temos o que poderia ser chamado de nascimento gradativo da Feira através de dois personagens históricos.  Leia-se abaixo citado.
Os feirantes pioneiros foram um cearense e Manuel Félix da Silva vendedores de rapadura, em baixo de um tamarindeiro, na porta da fábrica aos sábados. Gradativamente, outros nordestinos foram trazendo seus produtos e chegaram a Central do Maranhão na década de 1920, vindos principalmente do Ceará e do Rio Grande do Norte, devido à seca (TROVÃO, 2000). 

Outras características que este autor descreve, diz respeito ao escambo bastante praticado nos primórdios da feira com a troca animal por animal, além da separação de produtos por classe social, sendo a carne voltada para os ricos e o peixe para os mais pobres. 
Há varias décadas, a feira consegue atrair comerciantes locais e de municípios vizinhos tais como: Pinheiro, Guimarães, Santa Helena, Mirinzal, Cedral, Cururupu e outros (PREFEITURA DE CENTRAL DO MARANHÃO, 2007), além da diversificação de produtos, não ficando apenas nas mercadorias alimentícias, mas incluindo produtos industrializados como os eletrônicos ((IMESC, 2012, p.166).

 

A feira de Central do  Maranhão hoje

 
A feira ainda é realizada todos os domingos no período da manhã. Fazem parte dela comerciantes, compradores e visitantes de toda parte da região. De acordo com depoimento de frequentadores, e ste é o único meio de escoamento dos produtos oriundos da agricultura local (Figuras 04-07).










Produtos como a farinha “d’agua”, hortaliças, utensílios diários,  e a comercialização de  animais de pequeno, médio e grande, a exemplo dos  bovinos são observados. Porém, a exposição de tais produtos observa-se  que  é feita na maioria das vezes  de forma não tão adequada. 

É comum se ver os produtos da agricultura sendo expostos em caixas monoblocos e carros de mãos, e ainda seus vendedores (muitos deles são os próprios agricultores), sem utilização de proteção do sol nem da chuva.

A segurança é precária, na maioria das vezes nem tem. O transito é desordenado, as sinalizações não é respeitadas por motoristas. E, é comum ver transitando por entre as pessoas carros, caminhões e principalmente e principalmente motos.

Quanto à higiene,  é um dos quesitos que deixa muito a desejar. Pois não há visita da vigilância sanitária com a frequência necessária, deixando os feirantes muito à vontade, consequentemente acabam por não cumprir as exigências de higiene. Estes são alguns dos pontos desafiadores da feira de central.

Muito maior que desafios,  a feira oferece uma gama de oportunidades tanto para os comerciantes quanto para os agricultores da região e principalmente para os locais. É a maior ferramenta de escoamento de produtos agrícolas que a população tem disponível. 


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[1] SALES, Aricelia Cantanhede. Fazendo casas de taipa: etnografia do processo de construção das casas de taipa na cidade de Central do Maranhão- MA/Brasil. Monografia  defendida para aquisição do grau de Licenciatura em Educação Artística da Universidade Federal do Maranhão. UFMA, 2012 .p 26.
[2]OLIVEIRA, Paulo. Cronologia da História de Guimarães: homenagem aos seus 250 anos.  2ª Edição ampliada. SEGRAF, 2007.  p . 124.
[3] VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão. (1612 – 1895), volume 2, reedição similar, São Luís: Associação Comercial do Maranhão/LITHOGRAF, 1992 . p 19 e 20 .
[4] PACOTILHA, São Luís, 12 de Junho  de 1916. Ano XXXVI,  Edição Nº 00137. Hemeroteca digital brasileira- Disponível em: http://memoria.bn.br/.  Acesso em Dez 2019.
[5] VIVEIROS, Jerônimo de. Escorço da história do açúcar no Maranhão:  No tempo das eleições a cacetes: dois estudos históricos. Organização de Luiz Mello.- São Luís: Ponta a Ponto Gráfica e Editora, 2016.p113-114.




REFERÊNCIAS
CUTRIM, Deusaliza da Silva Melo.  Processo de Emancipação do Município de Central do Maranhão. Monografia de concussão do curso de Licenciatura em História da Universidade Federal do Maranhão, UFMA, 1998.
INSTITUTO MARANHENSE DE ESTUDOS SOCIOECONÔMICOS E CARTOGRÁFICOS. Enciclopédia dos Municípios Maranhenses: microrregião geográfica do litoral ocidental maranhense / Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos. – São Luís: IMESC, 2012. V. 1 : il ; 287 p.
OLIVEIRA, Paulo. Cronologia da história de Guimarãeshomenagem aos seus 250 anos.  2ª Edição ampliada. SEGRAF. São Luís, 2007.
PEREIRA, Robson.  Uma primeira observação sobre a feira Livre de Central do Maranhão, da origem e uma etnografia hoje.  In: FERRETY, Sergio. Reeducando o olhar: estudos sobre feiras e mercados/ organizado por Sergio Ferretti: - São Luís: Edições UFMA; PROIN (CS ), 2000.
SANTOS, Agnaldo Reis dos. A história da Usina Joaquim Antônio: a mão-de-obra empregada, sucessão administrativa e sua contribuição para a formação do município de Central do Maranhão. Pesquisa apresentada ao programa de Especialização em História da Universidade Estadual do Maranhão/ São Luís: UEMA, 2006.
SALES, Aricelia Cantanhede. Fazendo casas de taipa: etnografia do processo de construção das casas de taipa na cidade de Central do Maranhão- MA/Brasil. Monografia defendida na Graduação em Educação Artística da Universidade Federal do Maranhão, 2012.
SALES, Aricelia Cantanhede & BARBOSA, Josivaldo Flor Costa. Salve o Patrimônio Histórico de Central do Maranhão: engenho central de Joaquim Antônio Viana. Pôster apresentado  In: II ENCONTRO FLORESTA DOS GUARÁS, 14, 15 e 16 de Julho de 2017- Cururupu /MA.
SALES, Aricelia Cantanhede. Um tesouro não conhecido: breve história do engenho Central de Joaquim Antônio Viana, 29 p. São Luís, Ago. 2016. Material construído durante a disciplina História do Maranhão I como requisito para  avaliação.

VIVEIROS, Jerônimo de. História do Comércio do Maranhão. (1612 – 1895); (1952-1954), volume I e II , reedição similar, São Luís: Associação Comercial do Maranhão/LITHOGRAF, 1992.



Comentários

  1. Está feira uma das maiores e mais antigas feiras ao ar livre da nossa região nós fins de semana. Tornou-se um patrimônio turístico e importante gerador de renda local. Vale a pena conferir.

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